sábado, 15 de janeiro de 2011

O Eu como a Suprema Divindade


O sentido do eu não é algo exclusivo da nossa espécie. É comum a todas as criaturas vivas, sendo que cada uma procura expressar e perpetuar a si mesma. Além de toda vida corporificada, o sentido do eu permeia o universo inteiro como o próprio fundamento do Ser, que é a autoexistência. O sentido do eu é a raiz da nossa mente, das emoções e do prana. O Yoga Interior visa nos ajudar a alcançar o Eu Supremo oculto dentro de nós, de modo que possamos passar do nosso ego humano à presença cósmica que é nossa identidade real.

No mundo moderno, a psicologia domina o nosso pensamento e configura a nossa visão da espiritualidade. Passamos a considerar o Atman ou Eu Superior sob a luz psicológica como uma formação das emoções humanas, não como uma realidade cósmica. A psicologia diz respeito principalmente ao eu-ego e a trazê-lo a um estado de harmonia e felicidade. O Yoga, entretanto, almeja ir além do eu-ego até chegar ao Eu que é incondicionado, além do corpo e da mente, transcendendo o nascimento e morte.

A verdadeira espiritualidade é a busca por nossa verdadeira natureza na pura consciência, que é um verdadeiro conhecimento do Eu e realização do Eu, e não apenas a obtenção do equilíbrio dentro do campo do eu pessoal e seus anseios sociais. O real conhecimento do Eu é algo muito maior do que qualquer conhecimento psicológico; é uma consciência universal e cósmica, e não apenas um conhecimento da emoção, da sexualidade e dos nossos traumas pessoais.

Atualmente muitos grupos estão trabalhando para psicologizar a espiritualidade, para torná-la uma forma sutil de terapia psicológica, analisando a raiva, o medo e o desejo como os fatores principais da busca interior. Do lado positivo, esse encontro entre a psicologia e a espiritualidade pode ajudar a espiritualizar a psicologia, levando o Yoga e a meditação a abordagens psicológicas para tratar de distúrbios emocionais, neuroses e traumas. De fato, o Yoga e seu sistema relacionado de medicina ayurvédica pode acrescentar muitos métodos práticos e descobertas profundas a respeito de como lidar com problemas psicológicos, expandindo grandemente nossa variedade de tratamentos e permitindo ao paciente um papel maior na cura de si mesmo.

Contudo, de forma negativa, um enfoque psicológico pode confundir a espiritualidade yogue com meros anseios emocionais humanos. Ele pode reduzir nosso Eu espiritual ou alma aos limites e interesses do ego e da nossa natureza externa como entidade social ou política. No pior dos casos, como se os estados yogues mais elevados da consciência fossem algum distúrbio psicológico ou oculto

Nosso verdadeiro eu não é o Eu psicológico ou ego que deve ser descartado para que aquele possa mostrar o seu brilho. Nosso verdadeiro Eu não é a identidade pessoal dessa encarnação especifica. Ele não é a autotransformação da emoção ou o produto de nossas preferências e aversões. Ele não é nossa identidade mental ou intelectual por meio de opiniões, crenças e preferências de nossos processos de pensamento. Não é nem mesmo nosso eu humano, mas nossa alma eterna, que nos une a todos os seres e todos os mundos.

*Texto extraído do livro YOGA TÂNTRICO INTERIOR do autor David Frawley, Editora Pensamento.